quarta-feira, dezembro 20, 2006

 

O último dos preconceitos

Nós temos orgulho da tolerância religiosa aqui estabelecida. Em nosso país, católicos, protestantes, judeus, mulçumanos, espíritas, ubamdistas, budistas, todos vivem em paz. Diferentemente de outros países onde a opção religiosa é motivo de segregação social e até guerras, aqui vivemos na mais profunda harmonia. Há uma ressalva a ser feita. A tolerância religiosa é válida, contanto que você professe alguma religião, como sabiamente expôs Leo Vines, criador da Sociedade da Terra Redonda.

Negros, homossexuais, judeus, deficientes, nordestinos, mulheres enfim, cada grupo que outrora foi vítima de preconceito neste país conseguiu se fazer respeitada, ou ao menos tolerada. Hoje em dia, não é aceito socialmente discriminar representantes de qualquer um destes grupos. As pessoas que insistem no preconceito são socialmente mal vistas. Em alguns casos são até processadas e eventualmente condenadas. O último preconceito socialmente aceito é justamente o preconceito com os ateus. Pode-se discriminar, fazer chacotas, mostrar repulsa ou constranger. Sendo contra ateus ninguém vai lhe olhar torto por isso.

O incrível é que mesmo pessoas supostamente inteligentes disseminam impunemente o preconceito contra ateus. Os ateus são vistos como pessoas malévolas e traiçoeiras e esses rótulos são propagados impunemente em qualquer grupo social. Brincadeiras, piadas infames e toda sorte de humilhação pública contra ateus é socialmente tolerada.

Nós ateus, por outro lado, temos de ser respeitosos. Não podemos dizer pro amigo espírita o quanto achamos boba a idéia dele de acreditar em fantasmões ou reencarnações. Não dizemos o quanto nos parece ridículo alguém, mesmo depois de crescido, achar que tem superpoderes como vidência ou premonição. Ouvimos todas as bobagens que nos são ditas com aquele ar respeitoso e cordial. Não podemos dizer também pro amigo católico o quanto achamos hipócrita a sua religião, que essa coisa de um amiguinho imaginário no céu ouvindo as preces é tola e infantil, que essa coisa de santos, anjos, demônios e o raio que o parta não têm nada diferente de qualquer mitologia barata. Não passamos na cara se eles fazem o que não lhes é permitido pela sua religião e não se arrependem disso.

Não rimos da cara de ninguém quando este dá um "graças a deus" ou quando ora numa situação difícil. Não descartamos a amizade de ninguém pela opção religiosa que essa pessoa professa e até admiramos sinceramente muitas pessoas que professam uma religião por quaisquer características suas, independente das convicções religiosas. Me oponho às idéias (e não renuncio isso), não às pessoas.

Muitas vezes a relação entre ateus e religiosos é uma via de mão única em termos de respeito. Esta situação por vezes chega a ser cansativa e não nego que dá vontade de chutar o balde. Decidi reagir e não mais tolerar qualquer desrespeito. Continuarei respeitando os que me respeitam. Os que me agredirem, não esperem que eu sorria amarelo e ofereça a outra face tal como o cordeirinho crucificado deles.

segunda-feira, dezembro 18, 2006

 

Por que eu não celebro o natal? (Top 3)

Há mil e um motivos (cristãos e não cristãos) para não celebrar o natal. Como ateísta, vou tratar da parte que me cabe.

1) O natal ainda é uma celebração cristã. Mesmo que a origem da data seja pagã (o nascimento do deus Mitra), mesmo que o natal seja uma invenção comercial, as pessoas comemoram no dia 25 de dezembro o nascimento de Jesus. Pensem em toda a confusão, nas guerras, nas mortes, no atravancamento do progresso da ciência (até hoje), na inquisição e nas cruzadas, no falso moralismo, no preconceito com os gays e com as mulheres e em tudo mais que esse cara promoveu ao longo de dois mil anos. Celebrar o natal é assinar embaixo de tudo isso. Comemorar o 25 de dezembro é concordar com todas as iniqüidades promovidas pelo cristianismo ao longo da história. Definitivamente não quero fazer parte disso.

2) As crianças são treinadas desde cedo a serem boazinhas o ano todo pra papai do céu ficar feliz e mandar uma recompensa no natal pelo papai Noel. É a lógica do cristianismo. Mais tarde estas crianças deixam de acreditar no papai Noel, mas continuam desejando recompensas divinas e temendo um castigo. Além de idiotizar essas crianças com historinhas absurdas que retardam o estabelecimento do senso crítico, os adultos imprimem nessas crianças a lógica nojenta do cristianismo, do castigo e recompensa.

3) Quando me perguntam por que eu não celebro o natal, eu costumo retrucar perguntando: você celebrou o yom kippur neste ano? E o ramadan? As respostas e o desfecho são óbvios. Por que raios então eu deveria celebrar o natal se não sou cristão?

 

Signo astrológico

Estou escrevendo pra protestar contra algo que me incomoda. Já notaram que alguns sites, a exemplo deste blogger em que escrevo, usam suas informações de nascimento pra colocar automaticamente no seu perfil o seu signo astrológico? EU NÃO TENHO SIGNO ASTROLÓGICO! Será que dá pra parar de me fazer o favor de me forçar a ter um? Está na hora de se parar de tolerar as pseudociências e isso começa por essas pequenas coisas do dia a dia. Se toleramos, nos empurram (e como empurram) a homeopatia nos hospitais públicos, os horóscopos em jornais, os videntes na TV...
Tolerância zero com as pseudociências!

 

Vida após a morte

Em minha infância, em meados dos anos oitenta, muitas crianças sonhavam em serem médicos, cientistas, professores, bombeiros, policiais etc. Quando perguntadas por que escolheram suas profissões elas respondiam com a maior inocência e sinceridade que lhes são próprias. As respostas eram banhadas de idealismo, de vontade de servir à sociedade, de salvar vidas, de produzir ou propagar o conhecimento.

Pergunte-se a adultos sobre as profissões que exercem. As respostas girarão em volta do dinheiro, da conveniência e da oportunidade fácil. Cada vez mais cedo as pessoas esquecem seus ideais e da sua função social. Não percebem que a única forma de viver após a morte é através do legado que deixamos pra família e pra sociedade. As religiões têm sua parcela de culpa ao fazerem as pessoas perderem essa ânsia de cumprir sua função antes da morte quando produzem falsas expectativas de uma vida eterna num paraíso.

Entretanto os grandes responsáveis pela inutilidade social das pessoas não são as religiões e sim o dinheiro e a fama. As pessoas vivem pra subirem em suas carreiras, conseguirem um emprego mais lucrativo ou de terem fama. Esquecem que o dinheiro e a fama devem ser meios ou conseqüências e não o objetivo final de suas vidas.

Vejam o exemplo dos médicos. No início da carreira muitos costumam mergulhar de cabeça em plantões e nas consultas em ritmo de linha de produção. É aí que aprendem a coisificar as pessoas, que endurecem com o sofrimento alheio, que esquecem da função social nobre que exercem. Param de estudar, de pesquisar, de ter gana de salvar vidas, de querer deixar sua marca na sociedade. Passam a se preocupar em acumular capital, única e exclusivamente. Não convém entretanto generalizar. Alguns médicos são eternos cientistas, voluntariam-se pra servir, tentam retribuir pra sociedade o custo que esta teve com a sua formação. Esses são dignos de minha profunda admiração e respeito.

Dentre os cientistas, a situação não é muito diferente. No ambiente acadêmico, a pressão por produção é grande. A produção não é medida pelo benefício pra sociedade advindo do seu trabalho e sim do número de publicações em revistas de impacto. Publicar seus trabalhos para que outros possam produzir mais conhecimento é absolutamente necessário, claro que o é. Mas repito, não pode ser o objetivo final, e sim, tem que ser apenas o meio. O objetivo final é a resolução do problema, venha a solução de onde vier, até mesmo de algum outro grupo. Se a solução veio de outro grupo, que coloque também seu tijolinho e ajude a construir uma muralha de conhecimento. Uma solução é sempre uma oportunidade pra produzir melhores soluções. É assim que o conhecimento avança. Tenho a felicidade de conhecer alguns cientistas com essa consciência de sua função social. Não por coincidência, estes são mais produtivos tanto em termos de benefícios pra sociedade vindos do seu trabalho quanto em termos dos mesquinhos índices acadêmicos.

A situação em que estão os serviços públicos nesse país são conseqüência dessa mesma realidade. Muitos jovens acabam de se formar e começam a exercer a profissão de concurseiro. Concurso pra que? Pra qualquer coisa, oras! O que vale é ter um emprego estável que lhes permita coçarem o saco até o fim de suas vidas inúteis. Muitos, depois de admitidos, têm ojeriza pelo seu próprio trabalho. Como poderão servir bem à população?

Empresários, pedreiros, advogados, artistas, funcionários públicos e até mesmo donas de casa todas têm uma função social a cumprir. As pessoas precisam se conscientizar da função, da importância e de utilidade de cada um. Aqui cabe até um pouco de auto-crítica pois eu já fui um desses egoístas mesquinhos mas agora decidi que quero viver além da morte. Pelo menos vou tentar.

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