quarta-feira, setembro 21, 2005

 

Intuições e maus presságios

Estimulado pelos inúmeros relatos de intuições e maus presságios que se concretizaram, decidi expor aqui meu ponto de vista sobre este tema. Intuição, por definição, é a capacidade de perceber, discernir ou pressentir coisas independente de raciocício ou análise. Esta é a definição formal. Mas, por essência, o que é a definição? Algumas pessoas que já tiveram mau presságios que se concretizaram atribuem à intuição um significado mágico ou metafísico. A princípio, esta explicação serve muito bem.

Acontece que, pela navalha de Occam, diante de duas explicações igualmente válidas para o mesmo fato, devemos preferir a explicação mais simples. Nesse caso, em particular, a explicação mais simples dispensa completamente o uso de seres metafísicos ou energias mágicas. Intuição é materialismo puro. Intuição é a nossa imensa capacidade cerebral de reconhecimento de padrões complexos. Reconhecemos padrões o tempo todo e obtemos conclusões sobre este processamento mesmo sem racionalizá-lo. A nossa incapacidade de racionalizar o reconhecimento de padrões complexos é evidente na área da Ciência da Computação. Muitos sistemas baseiam parte de sua segurança na dificuldade computacional que é reconhecer padrões complexos. Quem já não viu um sistema que exibe uma figura com caracteres distorcidos, coloridos e desalinhados ao mesmo tempo em que solicita ao usuário a digitação do texto inserido na figura? Isto nada mais é do que um artifício para fazer com que esses sistemas sejam usados apenas por usuários humanos. Nem o mais poderoso algoritmo de reconhecimento ótico de caracteres é capaz de reconhecer com confiabilidade os caracteres dessas figuras. Já nosso cérebro, é capaz de facilmente reconhecê-los através de um processo não racional.Assim funciona quando saímos à rua, e mesmo que o céu não esteja nublado pressentimos que vai chover. Nossos sentidos coletam informações da temperatura do ar, umidade e mais uma série de fatores que sequer nos damos conta. Nosso cérebro compara esses dados com toda a base de dados armazenada em nossa memória para saber quando esses fatores climáticos ocorreram no passado e se choveu ou não naquela data específica. Assim "pressentimos" a chuva.

Do mesmo jeito funciona com os maus presságios. Acredito que muitos souberam após a morte de Ayrton Senna que ele vai tido um mau presságio em sonho e que pensou duas vezes antes de entrar na pista naquele fatídico domingo. Mas será que o mau presságio de Senna foi um aviso dos céus? Ou será que sabendo que pilotar um Fórmula 1 é uma tarefa potencialmente fatal e consciente dos riscos envolvidos ele pressentiu que algo poderia acontecer? Quantas vezes será que ele entrou na pista completamente despreocupado e relaxado? Acho que não devem ter sido muitas. Ademais, será que a quebra do eixo de direção a que muitos atribuem o acidente foi uma coisa brusca e repentina? Será que Senna inconscientemente não percebeu sinais da iminente quebra nos treinos de sexta e sábado? Todos os fatos daquele domingo podem ser explicados com uma visão materialista das coisas.

Devemos então deixar de acreditar na intuição? NÃO! Absolutamente não. Deixando de aceitar sua capacidade de reconhecer padrões complexos você estará deixando de usar a faculdade cerebral que nos distingue essencialmente das máquinas e nos torna superiores. Devemos sim acreditar em nossa intuição e procurar desenvolvê-la pois esta é uma importante ferramenta que temos para perceber o mundo.

Comments:
Sempre adorei essa explicação dos padrões complexos. Faz muito sentido.
 
Where did you find it? Interesting read » »
 
Postar um comentário

<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?